terça-feira, 17 de julho de 2018

O que está em torno de nós ou que não está
e o que em nós procura o equilíbrio
para que as pálpebras respirem sobre os
                                                      destroços
é a matéria incerta do poema
O que talvez não é e não tem voz
apenas se pressente no ar imediato
com a concavidade de um barco sem costado
O que escrevemos é este roçar sem corpo
vazio e nu que não vemos e que talvez não seja
mais do que a forma que damos à nossa sede
                                                                  essencial

António Ramos Rosa, A intacta ferida.

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