quarta-feira, 11 de julho de 2018

O anel quebrado

A vida não tem portas nem janelas...
Por isso vos enganais no jogo vão
de lhe querer dar limites.

Ouve, ouve em ti o grande apelo
da tua própria vida que resiste
ao voto de a fechares num já previsto
anel de ininterruptos regressos.

Aniquila a vã presença
na resignação.
Cala essa voz cobarde que te pede
só descanso.

Vai por aí fora, e deixa vir
sobre ti o vendaval do inesperado!
Deixa gritar as vozes da quimera,
deixa clamar o apelo da loucura!

E vai! Vai até onde
a tua força vá. Segue-te,
não sigas as insinuações da cobardia.

És sangue e nervos e vontade e audácia!
Cumpre-te.
Vai como as nuvens ou a vaga,
como a seta ou o rio ou a chama...
mas vai contigo!

Adolfo Casais Monteiro, Sempre e Sem Fim (1937).

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